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quarta-feira, 9 de junho de 2010

CIDADES SUBMERSAS


Enchentes e tempestades são comuns em São Paulo e no sul do país há tempos. Mas só agora compreende-se o peso da ação humana no jogo climático.

Por: Adriano Belisário (12/02/2010) / Fonte: Site da Revista de História da Biblioteca Nacional

Os danos atuais são incomparáveis, mas parece que as águas já estavam destinadas a ser um transtorno para os paulistas desde tempos remotos. Primeira vila criada por Portugal na América, o município de São Vicente (SP) foi arrasado por tempestades e teve importantes edificações destruídas pelo mar revolto já em 1541.

Situação não muito diferente do Rio Grande do Sul, que também foi castigado com enchentes neste início de ano e possui um largo histórico de casos semelhantes. Um deles ocorreu em 1754, durante as Guerras Guaraníticas, quando o rio Jacuí transbordou e obrigou o exército português a subir nas árvores para se proteger das águas. E o pior: justamente enquanto os índios armavam uma ofensiva contra os colonizadores.

O jornalista Bruno Farias encontrou relatos sobre este episódio no livro ‘Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul: 1605-1801’ (Editora da URGS, 1981). Nele, há trechos onde o oficial português Manuel Martins dos Santos descreve o seguinte cenário: “na retaguarda tínhamos o rio, na vanguarda os campos alagados com seis [a] sete palmos [entre 1,3 e 1,5 m] de água”.

"O coronel Miguel Angelo Blasco, engenheiro e quartel-mestre general do exército de Gomes Freire, pintou três quadros do acampamento inundado. Este interessantíssimo material foi publicado, em 1931, pelo General Borges Fortes". (Legenda e imagens originais: www.cienciaeaarte.blogspot.com / Edição: Bruno Farias)

Segundo José Augusto Pádua, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em história ambiental, é preciso ter uma visão menos antropocêntrica sobre estes desastres. “Não é nenhuma novidade que aconteçam inundações e tempestades, apesar de certa estabilidade climática dos últimos 10 mil anos, que está sendo minada pelo aquecimento global”, diz.

A “novidade” é justamente a percepção da ação humana como parte fundamental do imprevisível jogo climático. Nos casos das enchentes em São Paulo e no sul do país, basta lembrar os rios que cortavam os terrenos onde se encontram as cidades e tiveram seus cursos alterados pela modernização, que impermeabilizava o solo com asfalto para os recém-chegados automóveis, dificultando a absorção da água pela terra.

“Até o Iluminismo, a visão do clima estava atrelada a uma perspectiva religiosa. Foram os cientistas ilustrados que começaram a discutir a importância da ação humana no clima, a partir do século XVII e XVIII. Um marco disto é a teoria do dessecamento, que foi desenvolvida naquela época na Inglaterra e na França. Ela diz que a redução da vegetação nativa diminui as chuvas e, portanto, provoca a desertificação. A percepção da mudança climática pela ação do homem se dá no contexto da modernidade”, analisa José Augusto Pádua

As mortes por conta do desabamento de encostas, por exemplo, podem ser diminuídas mantendo a vegetação nestas áreas. “A presença de floresta diminui bastante o risco de a encosta ser derrubada. Mas a natureza é tão potente que isto pode acontecer mesmo sem grandes desmatamentos, como foi o caso do acidente em Ilha Grande (RJ) recentemente”, pondera.

Para ele, pensar políticas habitacionais mais integradas ao meio ambiente é uma tarefa incontornável para evitar mais desastres climáticos. “É preciso nos localizarmos de maneira inteligente”, conclui. E, para isto, não basta que subamos nas árvores, tal como os portugueses durante a cheia do rio Jacuí.

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