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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Revolução Farroupilha

Matéria reproduzida pelo site do jornal ZERO HORA:


20 de setembro e outras datas relacionadas à
Revolução Farroupilha em Capão do Leão/RS

Por: Bruno Farias

A entrada dos farrapos em Porto Alegre no ano de 1835 continua sendo comemorada até hoje não só na capital como por todo o Rio Grande do Sul. E uma das cidades que não deixaram essa data passar em branco foi Capão do Leão/RS. Hoje, dia 20 de setembro de 2010, foi realizado na avenida Narciso Silva um desfile no qual participaram escolas, CTGs e outras instituições leonenses. E tudo isso com direito a bandas marciais, muitos cavalarianos e até a carros alegóricos.

Um dos veículos, por exemplo, exibiu pessoas pilchadas, sentadas à mesa, esperando o tradicional churrasco e ouvindo um grupo de músicos gaúchos. Outro representava uma charqueada cenográfica onde escravos produziam e colocavam pra secar, em varais, o charque. Muitos moradores foram à avenida principal de sua cidade comemorar a data na qual Porto Alegre foi invadida pelos farrapos, porém poucos leonenses sabem que seu município também foi palco de lutas ocorridas durante o mesmo conflito.

Há registros de uma batalha entre farroupilhas e legalistas no atual território leonense, além de alguns roubos e assassinatos cometidos dois anos depois por um oficial rebelde e seus homens. Arthur Victória Silva reproduziu em seu blog "História de Capão do Leão" algumas fontes que falam sobre esse confronto ocorrido na localidade há 173 anos, e dão mais detalhes sobre outros ataques, mencionados em um relato escrito dois anos depois.

O livro de Walter Spalding e Sebastião Leão "Datas rio-grandenses" (1963) assinala 16/04/1837 como o dia no qual os republicanos derrotaram os legalistas em Capão do Leão. De acordo com o autor Hernani Donato, em seu "Dicionário das Batalhas Brasileiras", nesse dia o coronel farrapo Crescêncio de Carvalho surpreendeu e desmanchou uma formação imperial em trânsito.

Dois anos mais tarde, em 14/05/1839, o Tenente-Coronel José Alves de Morais relatou ataques desse mesmo militar também em Capão do Leão. Mais detalhes podem ser conhecidos a partir de uma correspondência guardada no Arquivo Público do Rio Grande do Sul. Segundo o registro, "...O Coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, Comandante da Divisão da Esquerda, em ofício de 4 deste assim se exprime: No 1 do corrente o inimigo levantou o campo do Passo das Pedras, onde demorou dois dias, e se foi acampar no Clímaco, a 2 no Capão do Leão junto às porteiras; e ontem marchou para Pelotas".

É possível que o grupo de revolucionários tenha ido do Passo das Pedras (atual divisa entre os municípios de Cerrito e de Capão do Leão) até o arroio Quilimaco pela Estrada da Capela da Buena, caminho histórico através do qual era possível se deslocar entre esses dois lugares. E, depois, pela Estrada do Passo dos Carros, caminho por onde se podia seguir diretamente até Pelotas e que era muito usado desde o século anterior.

Também de acordo com o relato do Tenente-Coronel, "Aquela coluna de ladrões e assassinos, ao mando de Seara e Silva Tavares, cometeu em sua digressão atentados que horrrizam: saqueou a casa de Nicolau Bernardo completamente, não lhe deixando até o fato de quatro filhas menores de cinco anos; assassinou ao pé do porto do Caldeira barbaramente os infelizes Marco Rogério, Reduzindo Fonseca, José Francisco e Maurício Dantas, este maior de 60 anos e todos pais de numerosas famílias: seus cadáveres, oh peversidade! foram encontrados ainda amarrados de pés e mãos e degolados!!!"

Clique em + e - para aproximar e afastar:



No caminho entre o Passo das Pedras e Pelotas o bando de Crescêncio de Carvalho não só assassinou pessoas, como também se apropriou de bens alheios: "À vizinhança por onde passaram roubaram todo o gado manso: saquearam completamente cinco carretas de um francês de nome Pedro que as levava com fazendas e molhados para a campanha; e não satisfeita com este pingue espólio, o levaram preso e a seus peões, dois dos quais foram degolados e arrojados em umas grotas do serro Pelado, como me participa o passado da Brigada do mando de Loureiro. Todas estas atrocidades são determinadas por esse infame e malvado Governo do Rio de Janeiro, como em plena formatura declarou o monstro Silva Tavares, ordenando que por sua determinação não queria um só prisioneiro..."

O interessante é que até hoje existem lendas no município relacionadas à degola. Uma delas, bastante conhecida, é a da Lagoa Encantada, onde conta-se que eram jogadas as cabeças dos degolados em épocas de revolução. Outra, muito relatada pelos moradores, é a de que pessoas teriam morrido violentamente na Serra do Pavão. Esses mitos, supostamente acontecidos em outras épocas, envolveriam escravos, jesuítas, mascates, bandidos, entre outros. Acaso ou não, alguns dos acontecimentos mencionados pelos moradores teriam acontecido nas proximidades desse trajeto mencionado por Morais.

Entre outras pessoas entrevistadas durante a produção do trabalho de conclusão de curso de Jornalismo "Memórias leonenses: personagens, lugares históricos e lendas de Capão do Leão/RS" (Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, 2009), um ex-graniteiro chamado José Armando de Andrade contou já ter encontrado objetos antigos e até ossos décadas atrás, durante seus trabalhos na Serra do Pavão. Das diferentes histórias contadas pelo aposentado figura uma de que a mangueira de pedra existente no local teria servido como local de execução, e que muitas pesoas teriam sido degoladas ali. nas épocas de guerras e revoluções. Histórias como essa se repetem nas proximidades, vindas das bocas dos mais variados tipos de pessoas. Mesmo assim, pouco foi feito até agora pra que essas lendas sejam estudadas ou, no mínimo, registradas.



Tais lendas podem ou não ser relacionadas à guerra dos farrapos: nas revoluções de 1893 e de 1923 essa modalidade de execução também costumava ser muito usada, e muitos moradores ainda reproduzem, segundo o professor Joaquim Dias, o medo da figura do degolador. Existem inclusive uma foto e um poema da degola: a imagem da época da Revolução Federalista mostra Adão Latorre e outros espectadores assistindo um degolador passar a faca no pescoço de uma vítima. E o poema relata sobre um lenço branco que, na marra, será convertido em gravata colorada - uma alusão ao sangue que jorrava do pescoço de quem era assassinado assim. Felizmente, dessa época restaram apenas as comemorações e as tradições de amor aos costumes e à cultura gaúcha...

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Veja também
Fotos do desfile de 20 de setembro de 2010 em Capão do Leão/RS
Texto, fotos e mapa:
Bruno Farias - 20/09/2010

Fotos:
1.
Cavalarianos desfilam em comemoração ao dia 20 de Setembro em Capão do Leão/RS (Bruno Farias)2. Escolas e bandas marciais participaram do evento (Bruno Farias)
3. Carro alegórico representou os escravos que salgavam a carne nas charqueadas (Bruno Farias)
4.
Bandeira farroupilha (http://www.imagenshistoricas.blogspot.com/)
5.
Antônio Parreiras - proclamação da república riograndense (http://www.imagenshistoricas.blogspot.com/)
6. Tela de Guido Mondin - Farrapos transpõe a Ponte da Azenha em Porto Alegre/RS (http://www.imagenshistoricas.blogspot.com/)
7.
Batalha dos farrapos - José Washtk Rodrigues (http://www.imagenshistoricas.blogspot.com/)
8.
Uma das lendas de Capão do Leão fala da Lagoa Encantada, local onde os moradores contam que eram jogadas as cabeças dos degolados em épocas de revolução (Sylvio Dall´agnol)9. Foto de 1893 do degolador "Cabo Almeida", sua vítima e alguns espectadores, entre eles Adão Latorre (http://www.imagenshistoricas.blogspot.com/)

Fontes:
- DALL´AGNOL, Sylvio Giocondo. Capão do Leão: povo identidade.
- FARIAS, Bruno Martins. Memórias leonenses: personagens, lugares históricos e lendas de Capão do Leão.
- GUTIERREZ, Ester. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense.
- SILVA, Arthur Victória. Blog "História de Capão do Leão". Post "344 - Notas da Revolução Farroupilha"
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DA SILVA, Ana Carolina Martins. A literatura de Apparício Silva Rillo e a Revolução Federalista de 1893. ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA ÁGUA DA FONTE – DA ACADEMIA PASSO FUNDENSE DE LETRAS, Ano 1 – nº 2 – novembro de 2004. págs. 16-18.


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Saiba mais sobre...
Manoel dos Santos Loureiro, coronel legalista
...sobre os irmãos Manoel e José dos Santos Loureiro, coronéis legalistas que comandaram
as forças imperiais das missões durante a Revolução Farroupilha. Acesse o blog "www.loureirogenea.blogspot.com"



Conheça...
...algumas histórias e mitos contados pelos moradores do município:"Memórias leonenses: personagens,
lugares históricos e lendas de Capão do Leão/RS"


Confira...
...mais imagens da desta guerra travada
entre farrapos e imperiais nos posts:
Revolução Farroupilha (parte 1)
Revolução Farroupilha (parte 2)

2 comentários:

  1. Não me parece apropriado opor História e Atualidade, pois ambas estão intrinsecamente ligadas, entendo como mais adequado História e Atualidade.

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  2. Prezado Orlando,
    Ninguém opôs a história à atualidade, mas sim são feitas comparações de épocas antigas com as atuais. Se o senhor ler os textos antes de julgar o blog pelo nome, vai perceber isso.
    Att,
    Bruno Farias
    Jornalista / Especialista em História Social
    www.historiaxatualidade.blogspot.com

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