"Expedição Rio Grande do Sul: 6º dia – 21.04.2011"
"As 08:30 estávamos prontos, o Sr. Ronaldo já estava de prontidão com sua cuia e nada do nosso guia.
![]() |
Sr. Dalmo Dutra sendo entrevistado por Bruno Farias, lateral da sede ao fundo. |
Nesse dia recebemos a adesão do Bruno Martins Farias, companheiro de mapeamentos anteriores do GPME em Santa Catarina e responsável pelo levantamento de muitas referências na região Sul.
09:00 e nada do nosso guia, soubemos depois que ele teve um contratempo, motivo de seu atraso. Decidimos seguir e arriscar o acesso, o Sr. Ronaldo descreveu com detalhes.
Tudo certo, localizamos a casa do Sr. Dalmo Dutra sem erros em pouco mais de 20 minutos. Fomos extremamente bem recebidos na casa secular da sede da fazenda, em excelente estado de conservação, externa e internamente, pelo Sr. Dalmo e sua esposa Glória, ambos muito hospitaleiros e simpáticos.
Logo que perguntamos sobre a cavidade, o Sr. Dalmo Dutra não hesitou em apontar para uma palmeira do outro lado do vale indicando a localização. A indicação da posição da Toca do Sapateiro a distância foi bem precisa, mas no meio da mata, nem tudo é tão simples assim. Ciente disso, o Sr.Dalmo, muito prestativo, se disponibilizou a nos levar até a área aonde a caverna provavelmente deveria estar localizada. (...)
![]() |
Toca do Sapateiro II. Vista de uma das entradas. |
Na cidade ouvimos história semelhante, mas ao invés de um escravo fugido, o histórico, ou lendário, ocupante da cavidade natural seria um alemão fugido da guerra, também exercendo a ocupação de sapateiro.
Outra história: …Serviu como esconderijo durante a Revolução Farroupilha por um sapateiro que produzia calçados, residindo com a família dentro da caverna. Pelo que contam, foram até uns 80m de profundidade e não foram mais…
Também ouvimos repetidamente que a entrada da cavidade havia sido dinamitada para evitar a instalação de colônias de morcegos hematófagos, após um surto de raiva na região, e que teríamos que deslocar blocos para tentar acessar seu interior. Com a entrada destruída, o problema da raiva teria sido resolvido.
Também ouvimos que uma parede foi construída na entrada, dentro do mesmo problema da raiva com o gado e busca da solução de eliminação dos morcegos hematófagos.
![]() |
Toca do Sapateiro. Vista de uma das entradas laterais. |
O carro seguiu por um quilômetro na coxilha, parando uns 100 metros antes do Arroio Telho, afluente do Jaguarão. Continuamos a pé, atravessamos o Arroio e pegamos uma trilha com leve subida.
A aproximação de um campo de matacões indicava que estávamos próximos do nosso destino.
O Sr. Dalmo nos levou até um ponto provável da localização, adiantando muito a nossa busca, e retornou para a sede da fazenda.
Começamos a prospecção, andamos por todo o campo de matacões, dedicando maior atenção sobre a drenagem do afluente do Arroio Telho. Depois de vasculhar toda a área, localizamos alguns pequenos abrigos e algumas pequenas cavernas, nenhuma com as características descritas, principalmente no que se refere ao tamanho. (...)
- Uma pequena caverna, com aproximados 15 metros, 4 metros de desnível e relevo impossível de se viver.
- Outra pequena caverna com pouco mais de 8 metros de desenvolvimento. Essa possuía características que permitiriam a utilização como abrigo, com chão relativamente plano, pouco desnível e seca. No entanto, não observamos absolutamente nenhum vestígio que indicasse a ocupação da cavidade.
Também não observamos nenhum vestígio de explosão, muito menos de bocas entupidas por isso, até porque, qualquer iniciativa nesse sentido seria inútil, considerando as características das cavidades graníticas, com inúmeros espaços entre os blocos.
Assim sendo, identificamos e mapeamos a cavidade menor, com um mínimo de condições de habitação, como sendo a Toca do Sapateiro, e independente de seu pequeno desenvolvimento, consideramos que se trata, até o momento, da caverna mais ao sul do Brasil.
Toca do Sapateiro. Vista da outra entrada.
Denominamos a outra cavidade de Toca do Sapateiro II e por conta do tempo curto não realizamos seu mapeamento, a exemplo da inúmeras outras cavidades. Como referencial representativo, vamos identificar a área como Complexo da Toca do Sapateiro.
![]() |
Bruno Farias, integrantes da Expedição Rio Grande do Sul, Sr. Dalmo Dutra e sua Esposa Glória |
Diante dessas constatações, suscitamos a hipótese de estarmos no lugar errado, mas pelas descrições de drenagem, consideramos essa hipótese praticamente impossível, ou seja, muito provavelmente essas histórias podem ser consideradas lendas, devido às condições para uso desses abrigos como moradia provisória. (...)
A titulo de curiosidade, o nome do município originou-se da grande quantidade de Erva-mate nativa, e foi fundado pelo Coronel Rafael Pinto Bandeira."
Nenhum comentário:
Postar um comentário